O Departamento Nacional de Obras Contra às Secas (Dnocs) promoveu uma abertura emergencial na barragem Passagem das Traíras, no Seridó potiguar, permitindo a passagem de milhões de m³ de água advinda das chuvas das últimas semanas. A ação, iniciada na última quarta-feira (13), foi uma medida para evitar o rompimento da barragem, que aguarda conclusão das obras há vários anos.
A abertura da ensecadeira amplia ainda mais o problema de desperdício de volume de água na Barragem Passagem das Traíras. A informação foi confirmada à TRIBUNA DO NORTE pelo diretor de Infraestrutura Hídrica do Dnocs, Luiz Ernani Junior, que explicou a abertura emergencial na ensecadeira da barragem. Na prática, a abertura é uma espécie de desvio do curso do rio.
“Choveu demais na região, cerca de 130mm, e o volume das águas que estava chegando na área da barragem, considerando a ensecadeira, começou a preocupar uma vez que existia a possibilidade de haver o galgamento da ensecadeira e consequentemente colocá-la em colapso. Tomamos uma medida emergencial, abrimos a ombreira direita para que essa descarga passasse pelo túnel da galeria. Quando tivermos uma redução desse volume vamos fechar a ensecadeira para concluir o serviço da barragem da passagem”, disse o diretor.
Ainda segundo Ernani Junior, há um engenheiro no local fazendo o monitoramento do volume da água. Na prática, a ensecadeira é uma barragem de terra que foi colocada para dar condições de trabalho na fundação da barragem. “É uma etapa que faz parte do escopo da obra”, acrescentou.
Segundo o Dnocs, as obras físicas para a recuperação da Barragem Passagem das Traíras, tem previsão de conclusão para o final deste mês de março. O certame para aquisição e montagem dos equipamentos hidromecânicos já foi concluído e prevê a finalização da implantação para o mês de julho de 2024. A empresa que ganhou a licitação para a aquisição dos equipamentos hidromecânicos é a Hydrostec Tecnologia e Equipamentos LTDA, com um valor de R$2.175.000,00, e a empresa que irá realizar a montagem dos equipamentos é a Nova Meta, que propôs um valor de R$750.00,00.
“O Dnocs esclarece ainda que já executou 95% da obra e que os recursos para finalização, próximos à R$3 milhões, já estão assegurados, uma vez que o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional já assinou a TED (Termos de Execução Descentralizada) que referenda o repasse de recurso para execução dessas obras”, disse o órgão em nota.
As comportas são equipamentos hidromecânicos utilizados para controlar o fluxo de líquidos em canais, rios, barragens e outras construções hidráulicas. Geralmente, as comportas são compostas de placas ou lâminas móveis que podem ser levantadas ou abaixadas para permitir ou impedir a passagem da água com o intuito de impedir desperdícios e garantir que a água fique armazenada e possa ser devidamente distribuída pelos órgãos hídricos.
Desperdício
Em dezembro, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE ouviu representantes de Jardim do Seridó e São José do Seridó, municípios que podem se beneficiar da barragem, cobrando a instalação das comportas para “fechar” a barragem. Na época, parlamentares apontavam que a não instalação da comporta poderia desperdiçar a água acumulada das chuvas.
“Essa ensecadeira é para se manter seco o local que se trabalha. Nesses últimos anos, como houve atraso na obra, essa estrutura funcionou como um barramento auxiliar e garantiu alguma água que ficou represada, mas ela não é barragem em si. Como está chovendo e a água está entrando na barragem evidentemente essa ensecadeira seria rompida e a água iria descer. Para não haver esse problema, o Dnocs abriu a ponta dela para que a essa água possa laminar e descer pela comporta que está aberta”, disse o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN, Paulo Varella.
Reforma
A recuperação da barragem foi iniciada em 2020 com recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional. Com 95% de obras prontas, restam as comportas e outros reparos no vertedouro.
Em junho do ano passado, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) anunciou a reativação do sistema da barragem visando o abastecimento hídrico de Jardim do Seridó, que na época vinha sendo abastecido pelo açude Boqueirão desde janeiro. Com a falta de chuvas e o baixo volume do manancial, a Caern voltou a captar água da Passagem das Traíras visando diminuir a retirada de água do Boqueirão.
A Barragem Passagem das Traíras é uma das mais importantes barragens do Rio Grande do Norte. Faz parte do conjunto de barragens da bacia do rio Piranhas-Açu, tendo barrado o rio Seridó. A barragem tem capacidade para 50 milhões de m³. O empreendimento está situado no limite entre os municípios de São José do Seridó, Jardim do Seridó e Caicó. É o quarto maior reservatório da região do Seridó. Seu nome faz referência a um peixe comum na caatinga, a traíra.
A barragem é utilizada para abastecimento de água para a zona urbana de Jardim do Seridó e zona norte de Caicó; irrigação, defesa contra as cheias, atividades recreativas e criação de peixes.
As obras para recuperação da barragem Passagem das Traíras foram iniciadas em 2020, com orçamento inicial de R$ 21,9 milhões, recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Antes, em 2018, um relatório da Agência Nacional das Águas (ANA) já apontava uma série de irregularidades, rachaduras e problemas para a barragem. À época, o açude foi classificado em nível de “Perigo de Alerta” pela ANA.