A partir deste 19 de setembro de 2021, quem passar pelo quilômetro 180 da BR 304, no lado esquerdo da rodovia no sentido Natal-Angicos, à sombra do pico do Cabugi, na região Central, vai se deparar com uma imagem monumental que simboliza um dos capítulos mais importantes da pedagogia mundial. Neste domingo (19), data do centenário de nascimento de Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, o Governo do Rio Grande do Norte contribuiu para eternizar a presença histórica do pernambucano no estado, quando há 58 anos o educador alfabetizou 300 adultos – entre homens e mulheres do campo, no episódio conhecido nacionalmente e internacionalmente como ”As 40 Horas de Angicos”.
“Não estamos homenageando uma pessoa qualquer. Estamos falando de uma pessoa que tem mais de 40 títulos de doutor honoris causa. Um intelectual traduzido para mais de 20 idiomas e que se tornou o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de humanas”, declarou a chefe do Executivo estadual, na solenidade de inauguração da obra do escultor Guaraci Gabriel, que consolida as celebrações em torno do centenário de Paulo Freire, no Rio Grande do Norte, exatamente na cidade que há quase 60 anos foi cenário do revolucionário projeto de educação desenvolvido no célebre estilo freireano.
Na ocasião, Fátima agradeceu a Guaraci pela homenagem e declarou que uma das melhores formas de homenagear Paulo Freire é reafirmando o compromisso do Governo do Estado com a Educação. Ela citou o Programa Nova Escola Potiguar (PNEP), que receberá o maior volume de recursos já anunciado por um governo estadual, cerca de R$ 400 milhões, e que tem entre as principais premissas a meta de superar a marca de 400 mil analfabetos no território potiguar. “Em 2019, primeiro ano de nosso governo, vim a Angicos lançar o programa de superação do analfabetismo. Escolhemos esta cidade por reconhecer que foi aqui onde tudo começou. Paulo Freire nos inspirará com o seu legado na luta por uma educação enquanto direito de cidadania”, justificou.
A governadora do Rio Grande do Norte considerou lamentável que um pensador brasileiro da magnitude de Paulo Freire não tenha merecido um registro sequer por parte do Governo Federal no seu centenário. E tão grave quanto, completou ela, é o ataque que se faz à sua obra que não é de hoje. “Em 2016, quis o destino que, como parlamentar, eu tivesse no Senado para liderar o movimento que impediu que Paulo Freire fosse ‘desomenageado’. Um absurdo sem tamanho: queriam retirar dele o título de patrono da educação. Não permitimos”, lembrou ela. A proposta que tornou o educador pernambucano patrono da educação brasileira é de autoria da deputada Luiza Erundina e foi sancionado pela presidenta Dilma.
Paulo Freire também foi vítima da ditadura militar. Em 1964 chegou a ficar 72 dias preso e acabou exilado na Bolívia e, posteriormente, no Chile. “A essência do crime que ele foi absurdamente punido foi essa: ensinar ao povo pobre e oprimido não apenas aprender a ler e a escrever, mas compreender o mundo e lutar por seus direitos”, enfatizou Fátima. “Nós não podemos permitir que a história se repita como farsa ou tragédia. Ao contrário, nossa geração tem o dever histórico, ético e politico de zelar pela memória e legado de Paulo Freire. Pelo quanto esse legado nos inspira a lutar por um mundo mais inclusivo, com paz, com justiça social e com educação de qualidade para todos e todas”, finalizou a governadora.
Quarenta Horas de Angicos
Coordenada pela Fundação José Augusto, a celebração pela passagem do centenário do Paulo Freire, que culminou com a inauguração da escultura “Quarenta Horas de Angicos”, teve início na tarde de domingo na Casa de Cultura da cidade, onde foi inaugurada uma sala em homenagem ao educador, além da exposição itinerante em homenagem à ex-governadora Wilma de Faria.
O evento contou com a presença de alunos e alunas da turma de Paulo Freire, como foi o caso de seu Paulo Alves de Souza, 79, conhecido como Paulo da Carroça, que tinha 22 anos quando foi alfabetizado. “Deus levou muitos de nós, mas ainda tem uns 15 daquela época. Eu e meus companheiros estamos muito felizes e esse é um momento de gratidão por vocês se lembrarem de nós. Foi uma diferença maravilhosa em nossas vidas”, disse ele.
A passagem pelos 100 anos do nascimento de Paulo Freire, na cidade de Angicos, contou com a participação do vice-governador Antenor Roberto; do secretário Getúlio Marques (Educação), da secretária Íris Oliveira (Assistência Social), dos secretários Jaime Calado (Sedec) e Fernando Mineiro (Gestão de Projetos e Relações Institucionais), da secretária adjunta Márcia Gurgel (Educação), do subsecretário Marcos Lael (Educação), da secretária adjunta Socorro Batista (Gabinete Civil); além do presidente da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, e do diretor Fábio Lima (FJA), da diretora da AGN, Márcia Maia, do diretor do DER-RN, Manoel Marques; do controlador geral Pedro Lopes, e do diretor da Fapern, Gilton Sampaio.
Entre os parlamentares, marcaram presença a senadora Zenaide Maia; o ex-deputado federal Henrique Alves, filho do ex-ministro Aluízio Alves, então governador do RN na época da realização do projeto “As 40 Horas de Angicos”; o deputado Francisco do PT (autor da Lei 10.592/21, que institui o ano de 2021 o Freire-Ano da Educação Potiguar); a deputada estadual Isolda Dantas; a vereadora Divaneide Basílio e o vereador Pedro Gorki, ambos de Natal, e representantes das entidades estudantis, como APES e UMES, e das entidades de classe SINTE-RN, Sinasefe e CUT-RN.
Também estavam presentes o reitor do IFRN, José Arnóbio Araújo, e o representante da UFERSA, Samuel Oliveira.
Escultura
A escultura, que mede 12 metros de altura e 7 metros de largura, foi instalada no terreno da Fazenda Serra Talhada, localizada no Km 180, da BR 304, em Angicos. Na obra, consta a imagem do educador pernambucano, o numeral “40” e as frases: “Paulo Freire – Patrono da Educação Brasileira” e “Tudo Começou em Angicos-RN”. Para a confecção da obra foram utilizadas 3,5 toneladas em materiais de ferro.
A festividade cultural ao pé do pico do Cabugi contou com participação da cantora Cida lobo e do saxofonista Joedson do Sax, e encerrou com recital do poeta Antônio Francisco.