Passados quase 10 meses de uma série de ataques que aterrorizaram o Rio Grande do Norte, as facções criminosas seguem tramando planos de expansão de suas atividades e disputa por territórios. O alerta é de fontes e interlocutores da segurança pública e do judiciário potiguar, que apontam para uma possibilidade de racha entre o grupo potiguar Sindicato do Crime (SDC-RN) e o carioca Comando Vermelho (CV), historicamente aliados. Aliado a isso, a quadrilha potiguar tem vivido um racha interno que pode estar gerando uma nova facção no Estado.
Segundo informações apuradas pela TRIBUNA DO NORTE, a facção dissidente do Sindicato do Crime chama-se Comando 84 (CMD 84) em cidades como Bom Jesus, São Tomé e São Paulo do Potengi, região Central e Metropolitana do RN. De acordo com o juiz Henrique Baltazar Vilar dos Santos, os dissidentes estariam insatisfeitos com o SDC.
“Essas informações estão sendo apuradas. Desde 2017, o Estado consegue controlar o sistema prisional. As facções tiveram que mudar a forma de trabalhar no Estado já que não têm esse controle total. A história que os presos falam nas cadeias é de que houve uma cisão do Sindicato RN, que desde 2015 tinha um acordo com o Comando Vermelho, que fornecia armas e drogas. O que temos escutado é que houve um rompimento, com alguns boatos correndo”, aponta.
Ainda segundo Baltazar, o aumento de tensões entre facções pode gerar a um acirramento no tocante à tomada de “quebradas” e territórios para controle do tráfico de drogas no Estado.
“No momento em que se tem um grupo (Comando Vermelho) que foi decretado por outro para assumir algumas regiões, evidentemente ele estará tomando espaço da outra facção (SDC-RN), eles não vão aceitar. Do mesmo jeito que no passado houve enfrentamento, morte e tomada de áreas, também teria esse confronto. A convicção é que eles vão guerrear pelo espaço. E nisso termina inocentes morrendo, com bala perdida, alguém estando em um local sem ter nada a ver com a história”, disse.
Uma “relatório” obtido pela TN e interceptado pelas forças de segurança do Estado aponta para a possibilidade de uma tentativa de golpe entre as facções do RN e a do Rio de Janeiro. O CMD 84 passaria a ser parceiro justamente da facção carioca.
“(sic) Recebemos o apoil do CV.. e fechamos na ideia com eles e n vamos para até consseguir deixá nossa parada da forma correta. Forte organizada melhor para todos .. vamos tá lanssando aqui o novo estatuto eas novas maneiras de condução. O nosso estatuto Er o do cv toda ideologia vai vim do RJ. Resumindo e frizando e deixando bem claro. Que aqui em São Tomé n vai ter mas sdc n !! Agora Er o comando 84 (sic)”, diz trecho de uma das mensagens.
Ainda segundo o juiz Henrique Baltazar, mesmo com a cisão, a facção potiguar fundada em 2013 segue sendo maioria nas unidades prisionais do Rio Grande do Norte e no comando da maior parte dos territórios potiguares na disputa pelo tráfico de drogas. A quadrilha potiguar rivaliza ainda com o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo paulista com células em Macaíba, Seridó e Oeste, e a facção cearense Guardiões do Estado (GDE), que tem se expandido no Rio Grande do Norte tendo como rota de entrada Mossoró e cidades circunvizinhas.
Mesmo com as intensificações de conversas do lado de fora das cadeias, o juiz Henrique Baltazar reforça que o sistema penitenciário do RN está “controlado”. A Secretaria de Estado da Administração Penitenciária tem informado que desde 2019 não são encontrados celulares no Complexo de Alcaçuz, em Nísia Floresta.
A reportagem da TN procurou a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) e a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap) para repercutir o tema, mas foi informada de que não haveria posicionamento das pastas.