A cantora Walkyria Santos está encampando uma luta para aprovar uma lei federal que estipula penas para quem fizer comentários de ódio na internet. O filho dela de 16 anos foi encontrado morto, em casa, no início de agosto, após sofrer ataques por vídeo.
Em entrevista exclusiva à Inter TV Cabugi ela falou sobre a importância de combater o ‘ódio destilado na internet’.
A cantora acredita que essas agressões virtuais são ainda mais sentidas por adolescentes, por muitos não possuírem maturidade para lidar com algumas situações.
“A gente sabe se defender; os adolescentes, não. Eu sei, como diz na minha Paraíba, ‘arengar’, sei botar no lugar. Mas um adolescente não sabe, não tem as ferramentas. Os tempos são outros. (…) A gente que é macaca velha consegue passar por isso, mas e nossas crianças? Nem todas conseguem, como meu filho. Não deu”, lamenta.
Solidariedade
Dias depois da perda do filho, a cantora disse ter se sentido “amada e cuidada” por muita gente. “Recebi muito apoio da classe artística, do meio forrozeiro. Até da galera que eu nem conheço, que eu conheço só de internet, como os famosos globais. A galera toda mandou mensagem. Quem tinha o celular, mandou áudio. Todos preocupados”, falou.
A morte do filho fez Walkyria abrir um debate público sobre o poder de comentários ofensivos feitos na internet. Esse tema ganhou uma nova página nos últimos dias: a cantora agora busca a aprovação de uma lei na Câmara dos Deputados para punir criminalmente os chamados “haters”.
“Sete dias que aconteceu essa tragédia e eu já estava em Brasília. Eu não tive tempo nem de chorar. Eu disse pra mim mesma que não ia chorar, que ia lutar, em busca dessa lei”, disse. “Em meio a uma tragédia, a gente vai conseguindo forças pra seguir e é o que eu e minha famílias estamos tentando fazer”.
Mensagens recebidas e preocupação com a tia
A cantora disse que não se aprofundou nas mensagens recebidas pelo filho, mas relatou que muitas tinham teor homofóbico.
“Meu filho mais velho mandou uma mensagem dizendo: ‘Mainha, está acontecendo alguma coisa com o Lucas, olha as mensagens. Ah, você já era gay, está escondendo de quem? Está saindo do armário?’. E uns nomes bem feios”, relatou.
“Meu filho não era gay. E se fosse, qual o problema? Eu ia amar do mesmo jeito. É melhor um filho gay vivo do que um hétero morto. Filho é filho, independente do que seja. Foi só uma brincadeira, ele tinha a namoradinha dele. E ele era super feliz. Meu filho nunca apresentou sinais que levassem a isso. Mas a gente só pergunta o porquê e não chega”.
Nos comentários dos vídeos, Lucas chegou chegou a citar a tia, como se tivesse uma preocupação de o que ela iria achar do conteúdo postado. Walkyria rebateu que ele tivesse medo da tia e explicou que as duas monitoravam o filho.
“É que a minha irmã é bem ‘estabacada’, fala alto, é agitada. Ela quem criou meus filhos pela minha ausência, de viajar muito. Ele [Lucas] chegava a dizer que se eu arrumasse um namorado e fosse morar em outro lugar, ele não deixaria a tia. Eu sei que eles [meus filhos] não deixam a tia deles, que é mãe deles também. É tanto que minha pequena chama minha irmã de mãe”.
“Tudo que ele fazia a gente sempre monitorava. Mas não era por ele, era pelas pessoas que estavam por trás do celular. Ela monitorava, mas as pessoas querem distorcer as coisas. Ele era o xodó dela e ela era o xodó dele. Eu acho que ele amava mais a tia do que a mim”.
Carreira
Walkyria diz que vai retornar a carreira como cantora em breve “até porque a gente não pode ficar com a cabeça vazia”.
Ela conta que no momento, no entanto, não tem condições de subir no palco. “O que eu fiz a minha vida inteira foi cantar, levar alegria, emprestar minha voz para que as pessoas ouçam e se divirtam. Esse mês eu já recebi muitos convites, porque eu tinha alguns shows marcados. Mas esse mês está muito estranho para mim, eu não consigo subir no palco”.
“Mas eu vou, sim, retomar minha carreira, porque é uma coisa que eu amo fazer e vai ocupar minha mente. A gente precisa disso. E eu sei que ele iria gostar que a gente ficasse bem aqui. Bem a gente não vai ficar não, mas…”.