O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizou um pronunciamento à imprensa, na tarde desta sexta-feira (22/10), para dizer que o ministro da Economia, Paulo Guedes, permanecerá no cargo.
Depois de quatro demissões na equipe econômica do governo nesta semana, interlocutores levantaram a possibilidade da saída de Guedes, o que foi descartado pelo chefe do Executivo durante discurso.
“É uma pessoa que conheci bem antes da eleição. Nós nos entendemos muito bem. Tenho confiança absoluta nele e ele também entende as aflições que o governo passa. Ele assumiu em 2019, fez o melhor trabalho naquele ano e nossa economia estava indo muito bem, quando começou em 2020 a questão da pandemia”, disse Bolsonaro, que foi ao Ministério da Economia encontrar-se com o chefe da pasta.
O presidente também se pronunciou sobre o pagamento de R$ 400 mensais por meio do Auxílio Brasil, assunto que causou um vendaval na Economia.
“Tem uma massa de pessoas que são mais necessitadas. Hoje em dia, em torno de 16 milhões de pessoas estão com o ticket médio na casa dos R$ 193 [no Bolsa Família]. A gente vê esse valor como insuficiente para o mínimo. Assim sendo, com responsabilidade, viemos estudando há meses essa questão para chegar a um valor. Deixo claro, esse valor decidido por nós tem responsabilidade. Não faremos nenhuma aventura e nem queremos colocar em risco nada no tocante à economia”, declarou o chefe do Executivo.
Guedes, por sua vez, disse que não pediu demissão em nenhum momento e agradeceu a Bolsonaro pela confiança.
Na noite de quinta-feira (22/10), após as saídas de quatro secretários do Ministério da Economia, Bolsonaro disse à CNN Brasil que Paulo Guedes seguiria no cargo.
“Paulo Guedes continua no governo, e o governo segue na política de reformas. Defendemos as reformas que estão andando no Congresso Nacional, esse é o objetivo”, disse Bolsonaro sobre os rumores.
Cenário
Guedes perdeu integrantes importantes de sua equipe na mesma semana em que o governo decidiu ampliar o valor do Auxílio Brasil de R$ 300 para R$ 400. Para isso ser possível, uma parte do subsídio precisará ficar fora do teto de gastos, o que os agora ex-secretários consideram inadmissível.
O ex-secretário do Tesouro Nacional Bruno Funchal já havia sinalizado que deixaria o cargo se tivesse que assinar “alguma” medida que envolvesse a liberação de recursos fora da regra, os chamados créditos extraordinários.
O ministro Paulo Guedes, que até a última terça-feira (19/10) concordava com Funchal, admitiu no dia seguinte “licença temporária” para gastar e revelou que uma das saídas seria antecipar a revisão do indicador de inflação que regula o teto de gastos, que estava prevista para ocorrer em 2026.
A mudança de postura foi concomitante com mais um anúncio do presidente Bolsonaro, o do pagamento de um auxílio para 750 mil caminhoneiros autônomos. O chefe do Executivo, no entanto, não informou de onde tirará o dinheiro para o benefício.
A incerteza fiscal fez com que o mercado financeiro derretesse durante a semana. Às 12h26 desta sexta, a moeda americana operava em disparada, chegando a R$ 5,75, alta de 1,46%. Perto do mesmo horário, o Ibovespa, principal índice da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), caía 3,63%, atingindo 103.823 pontos.
De acordo com economistas ouvidos pelo Metrópoles, a situação não deve se acalmar tão cedo. “Se tem uma coisa que o mercado não gosta é de governo que dá guinadas populistas e flerta com a irresponsabilidade fiscal, ainda mais tratando-se de um país emergente, como o Brasil”, afirmou o analista da Clear Investimento, Rafael Ribeiro.
Em três dias, as empresas brasileiras perderam R$ 284 bilhões em valor de mercado na bolsa de valores, segundo um levantamento realizado pela provedora de informações financeiras Economatica.
Fonte: Metrópoles