Na pesquisa FM 98/Instituto Consult, a primeira registrada e publicada neste ano sobre a corrida eleitoral de 2018, um nome surpreendeu: Gilvan Alves. Trata-se do vereador de Apodi filiado ao Avante e pré-candidato a deputado federal.
Gilvan apareceu entre os oito mais citados, com a intenção de votos superando nomes conhecidos da política, inclusive com mandatos na Câmara dos Deputados.
É o efeito do “novo”?
Na entrevista ao Cafezinho com César Santos gravada na quinta-feira, 22, na sede do JORNAL DE FATO, ele responde a essa e outras perguntas sobre política, eleições de 2018 e o seu projeto de chegar à Câmara dos Deputados.
Servidor do Tribunal de Justiça do RN desde 1997 e empresário, o apodiense Gilvan Alves, que foi eleito em 2016 com quase 6% dos votos, índice elevado para uma disputa à Câmara Municipal, assumiu a condição de líder da oposição, fazendo frente à gestão do prefeito Alan Silveira (MDB), que ele considera de pouca ação, mas de muita propaganda e oba-oba.
Leia a entrevista:
O SENHOR foi a surpresa em recente pesquisa do Instituto Consult na corrida à Câmara dos Deputados, aparecendo entre os oito mais citados. O senhor atribui esse resultado a quais fatores?
O DESEMPENHO do nosso mandato na Câmara de Apodi tem repercutido em toda a região do Médio e Alto Oeste. Acredito que a nossa voz em defesa do cidadão tem recebido o reconhecimento da população. Apodi é um município importante, com influência positiva sobre outros municípios, então, entendo que a boa surpresa na pesquisa Consult, com meu nome entre os mais citados, decorre exatamente da nossa atuação na Câmara Municipal de Apodi.
DE QUE forma o senhor está atuando no Legislativo para alcançar essa performance positiva, conforme aponta a pesquisa Consult?
NOSSO mandato é transparente, temos legislado com muita responsabilidade e, principalmente, atuado na fiscalização dos recursos públicos. Isso tem sido referência em nossa região. Nossa atuação em Apodi é reconhecida no município e em toda a região, por isso, entendo que a nossa boa performance nas pesquisas está devidamente justificada no nosso mandato de vereador, o que muito nos honra e nos dá certeza que estamos no caminho certo.
COMO o senhor justifica a tese que o seu mandato tem repercutido positivamente dentro e fora de Apodi?
NA NOSSA atuação. No primeiro ano de mandato, em 2017, apresentamos vários projetos de lei de interesse da coletividade e, principalmente, para moralizar a gestão pública. Um dos destaques é o projeto que impede que o gestor municipal coloque a sua marca ou cores de sua campanha em prédios e logradouros públicos. Esse projeto foi aprovado e sancionado. A gestão pública é impessoal, conforme determina a lei. A partir de nossa ação, acabou o desperdício do dinheiro público com pinturas de prédio, adesivos em carros oficiais e outras despesas que os prefeitos faziam para colocar as suas marcas no patrimônio público. Tivemos recentemente um caso absurdo. No final da gestão passada, a Prefeitura recebeu novos veículos e o prefeito colocou a logomarca de sua gestão, isso já no mês de dezembro; e quando o atual assumiu o mandato, mandou tirar os adesivos, provocando prejuízo ao erário. Agora, isso não acontecerá mais, porque os prédios, logradouros, carros e toda estrutura pública só poderão ter as cores, a logomarca e a bandeira do Município.
A SUA atuação recebe resistência do Executivo, pelo fato de o senhor ser vereador de oposição. Como, na prática, isso se caracteriza?
O EXECUTIVO tem vetado projetos importantes, levando em conta apenas a questão política, mas se esquecendo do interesse coletivo. É o caso do projeto de lei da coleta seletiva das escolas, de nossa autoria. As escolas não têm coletiva seletiva do lixo. A nossa ideia visa conscientizar o aluno para a importância de o próprio aluno fazer a coleta seletiva na escola, porque com esse hábito, ele faria também em casa. O projeto foi aprovado na Câmara, mas vetado pelo prefeito. O veto não se sustenta no aspecto jurídico, mas o atual gestor preferiu vetar por questão meramente política.
MAS, essa questão de estabelecer a coleta seletiva do lixo é muito importante, tem aspecto positivo para a saúde, por exemplo, e mesmo assim não foi levado em conta. Essa é a política menor que atrasa o município?
PARA justificar, ou tentar justificar o veto, o prefeito disse que Apodi tem um lixão e que todo lixo já é colocado lá, independentemente da coleta seletiva ou não, e, portanto, o Município não tem interesse de aprovar a lei. Isso é um contrassenso. O objetivo maior do nosso projeto de lei é a conscientização, a partir do ambiente escolar. Outro aspecto bastante positivo é que, com a coleta seletiva, o lixo iria gerar receita a partir da comercialização do papelão, do vidro, do metal e demais materiais selecionados. Apenas o descarte iria para o lixão. Infelizmente, o prefeito não teve a sensibilidade como gestor público, preferindo decidir levando em conta apenas o interesse menor da política.
MESMO reconhecendo a importância de Apodi na região do Médio e Alto Oeste, o senhor há de entender que esse universo tem parcela menor no processo das eleições estaduais. Mesmo assim, o seu nome aparece com destaque. O fato de ser um nome novo para outras regiões colabora com a tese que o eleitor está determinado a fazer mudanças a partir do voto?
ACREDITO nisso. O eleitor está com esse pensamento. As pesquisas mostram isso. A população está querendo algo novo, mudar a cara da política no nosso estado. Nós estamos apostando nisso. Entendemos que a verdadeira reforma política só vai existir através do eleitor, através do voto consciente. As pessoas estão se conscientizando que as verdadeiras reformas não serão feitas por aqueles que estão com mandatos em Brasília, porque eles sempre vão legislar em causa própria. A história no Brasil comprova isso. Foi feita uma reforma política que eu chamo de meia-boca, que beneficia apenas aqueles que já têm mandato. O povo está vendo isso e, acredito, através do voto faxina, o eleitor vai promover a grande reforma de que este país precisa.
COMO o senhor classifica o “novo” nas eleições, já que a sua pré-candidatura à Câmara dos Deputados vai levar a termo o discurso da mudança?
VAMOS mostrar à população que o modelo que aí está não serve mais, está saturado, falido, não tem mais como continuar. Ninguém aguenta mais ver a política no Brasil ser tratada como negócio. Vamos dizer, de forma bem clara, que se quer ganhar dinheiro, saia da política e vá para a iniciativa privada. Com relação à questão do novo, penso que não é apenas um nome diferente, que ainda não seja conhecido da grande massa. O novo no meu modo de entender é a atuação qualificada, honesta, transparente e que tenha projetos para realmente mudar para melhor a vida das pessoas. O novo é ter ficha limpa, é ter o interesse coletivo, é ter propostas que cumpram os objetivos e ideais de um mandato eletivo confiado pelo cidadão. Portanto, não adianta dizer que é o novo, mas agir de acordo com a velha política. O eleitor está atento e vai saber diferenciar na hora de eleger os seus representantes nas eleições deste ano. Da minha parte, asseguro, estou na política porque entendo que ela é um instrumento de transformação social e que podemos ser útil na vida pública.
QUAL seria o ambiente ideal na política para transformar a atividade pública?
A FIGURA do político profissional tem que acabar, inclusive eu defendo que é preciso limitar o número de mandatos no Executivo e no Legislativo. Não faz sentido um cidadão ganhar um mandato e morrer com mandato, sem ter qualquer outra opção. Como tem que ser? o político com mandato pode prestar serviço a sua cidade, estado e país por um período, mas depois passar para outras pessoas que tenham novas ideias, propostas e perfis que possam renovar os quadros da política.
QUAL é a sua proposta concreta?
A MINHA ideia é que qualquer cargo eletivo o cidadão só poderia exercê-lo por dois mandatos, eleito e reeleito. Por exemplo: o vereador cumpriria dois mandatos servindo à sua cidade e nunca mais poderia exercer o mesmo cargo. Isso aplicaria aos deputados estaduais, federais, senadores e cargos de Executivo. Também defendo que os senadores devem ser eleitos de quatro em quatro anos, acabando com mandato de oito anos.
O SENHOR é filiado ao Avante, um partido que mantém distância dos palanques tradicionais. No entanto, vai precisar formar um arco de aliança capaz de viabilizar a eleições de deputados. Como o partido está trabalhando o projeto eleitoral de 2018?
O QUADRO sucessório estadual ainda está indefinido. Os possíveis candidatos ao Governo, por exemplo, ainda não se definiram sob o ponto de vista de alianças, coligações, palanques. O governador Robinson Faria (PSD) não sabe se será candidato; a senadora Fátima Bezerra (PT) não sabe com quem se acompanhará; o vice-governador Fábio Dantas (PSB) tem dito que será candidato, enfim, não temos certeza de nada. Mas, particularmente, acredito que ainda surgirão novos nomes que poderão surpreender. O Avante está analisando o cenário e vai definir seu rumo na hora certa. É claro que o nosso partido tem um projeto em mente, que é disputar e eleger representantes na Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados. Esse projeto será a prioridade na hora que o partido for fazer a sua escolha de palanque majoritário.
COMO o Avante está trabalhando esse processo?
O AVANTE está fazendo análises internas, com cada diretório cuidando de suas cidades. Vamos respeitar, por exemplo, o quadro político local, de cada município, porque sabemos que um partido aliado numa cidade pode ser adversário em outra cidade. O Avante vai levar isso em consideração na hora de decidir o nosso palanque. O fato é que temos um projeto eleitoral para 2018 e vamos buscar de forma correta, sem abrir mão de nossas convicções.
A PRIORIDADE do Avante será eleger deputados estaduais e federais. O partido definiu meta em número de mandatos?
TEMOS um quadro já desenhado, com vários nomes filiados ao Avante, e buscando alianças com outros partidos que se identificam com o nosso projeto. Através da presidente Carla Veruska, que assumiu o cargo recentemente, estamos fazendo um bom trabalho de articulação juntamente com o vereador de Natal Raniere Barbosa, que está chegando ao Avante. Posso afirmar que há possibilidade real de formar uma composição com outros partidos capaz de formar uma grande nominata para eleger cinco ou seis deputados estaduais e pelo menos um deputado federal, com possibilidade de uma segunda vaga na Câmara. Essa é a nossa meta.
O SENHOR acha possível uma coligação formada por pequenos partidos eleger dois deputados federais? Não é muito otimismo?
TEMOS hoje 16 pré-candidatos. É uma nominata bem interessante. Não é sonhar demais eleger um deputado federal e conseguir eleger outro pela sobra de votos. Claro que vai depender da desenvoltura de cada um. Veja só: uma coligação com 16 nomes, e uma média de 20 mil votos um pelo outro, ultrapassará a casa dos 300 mil votos, capaz de eleger dois deputados federais. Estamos analisando todos esses fatores, inclusive, acompanhados de perto pelo presidente nacional do Avante (deputado federal Luís Tibé – MG), que tem vindo ao Rio Grande do Norte com muita frequência. Ele elegeu o nosso estado como uma das prioridades em 2018. O Avante tem uma meta nacional para ser votado, de forma expressiva, em pelo menos 11 estados, e o RN é um deles. Temos uma meta no RN e vamos trabalhar para cumprir.
O SENHOR tem sido o contraponto da atual gestão municipal em Apodi, travando debate com o prefeito Alan Silveira (MDB) e se elevando à condição de líder da oposição. Essa postura tem sido relevante para o seu projeto eleitoral deste ano?
ACREDITO que sim, inclusive, o modelo de atuação do Avante de Apodi é referência para o partido no Rio Grande do Norte. O Avante não tinha mandato em Apodi. Nas eleições de 2016, formatamos um projeto com partidos chamados pequenos, o que possibilitou o sucesso nas urnas, com a eleição de três vereadores. O Avante foi o partido mais votado em Apodi nas eleições de 2016, com 4.602 votos. Para se ter ideia, o nosso primeiro suplente com 775 votos, que é o Alexandre, foi mais votado do que dois vereadores eleitos por outra coligação. Portanto, nós temos um respaldo bastante positivo e temos levado o modelo que deu certo em Apodi para todo o estado, devidamente apoiado pelos diretórios estadual e nacional.
O SEU nome pode consolidar o discurso de defesa de a região ter um representante legítimo na Câmara dos Deputado?
A NOSSA região, que compreende o Médio e Alto Oeste, é carente de um verdadeiro representante na Câmara dos Deputados. O último deputado federal eleito em nossa região foi Antônio Florêncio, e isso faz muito tempo – (Antônio Florêncio, político pauferrense, foi deputado federal eleito pela Aliança Nacional Renovadora – ARENA, em 1971, 1974 e 1978. E faleceu no Rio de Janeiro no dia 11 de abril de 1991) – Depois daí não tivemos mais representantes; isso se reflete na vida das pessoas. A nossa região não recebe a devida atenção para resolver problemas de infraestrutura, saúde, educação, abastecimento. É um absurdo, por exemplo, a transposição das águas do rio São Francisco não contemplar a bacia do rio Apodi-Mossoró, porque não temos representação para lutar por esse importante benefício. Imagine a barragem de Santa Cruz sendo perenizada pelas águas do rio São Francisco numa região, que é nossa, vista como o maior celeiro agrícola do estado? Nenhum deputado federal lutou em Brasília para fazer valer essa riqueza natural que nós temos. Essa é uma luta que nós encampamos, a partir do nosso mandato de vereador em Apodi.
MAS, vereador, o senhor sabe que o rio Mossoró-Apodi será contemplado no momento seguinte que a transposição chegar ao RN pela bacia hidrográfica Açu-Piranhas…
ISSO vai demorar. Nós temos o Fórum das Águas que está debatendo essa situação na região Oeste, puxado por Pau dos Ferros, do qual faço parte, e sabemos que agora é que o projeto está dando os primeiros passos. Ainda vão tentar colocar recursos no orçamento da União, mas sem qualquer garantia ou prazo de quando as obras sairão do papel. Não temos qualquer previsão de quando será o ano que as águas do São Francisco chegarão à barragem de Santa Cruz.
A POLÍTICA de Apodi tem a tradicional disputa entre os chamados “bicudos” e “bacuraus”, com pequenos intervalos para outras alternativas. Com a sua liderança na oposição, o senhor acredita que chegou a hora de quebrar esse modelo de disputa político-eleitoral?
ACREDITO que sim. Essa rivalidade entre bicudo e bacurau não tem sido algo bom para Apodi e a história mostra isso. O município já perdeu muito com isso. Então, acredito que nós vamos ter o voto consciente a partir das próximas eleições, com a possibilidade de se estabelecer um novo ambiente na política de Apodi. Não sei se surgirá uma terceira via, mas o caminho está aberto para mudanças, porque as pessoas não suportam mais a velha política. De certa forma, já quebramos um pouco disso com a eleição de Flaviano Monteiro (ex-prefeito) nas eleições de 2012. Ele foi candidato em via alternativa e surpreendeu, vencendo as eleições. Podemos fortalecer esse processo nas disputas futuras.
QUAL a avaliação que o senhor faz do primeiro ano da gestão Alan Silveira?
É MUITA propaganda e pouca ação. Nós não tivemos avanços. Os índices de investimentos na saúde são sofríveis. O mesmo acontece em outras áreas vitais. E olhe que a Prefeitura de Apodi recebeu recursos extras no primeiro ano da gestão do atual prefeito, mas, mesmo assim, a Prefeitura investiu em saúde, por exemplo, menos do que no último ano da gestão anterior. Investiu menos recursos em educação no ano de 2017 em relação a 2016, em índice percentual. Não tivemos obras de infraestrutura e, até agora, com três meses do segundo ano da atual gestão, a população de Apodi não está vendo nenhum tipo de investimento que seja realmente sólido para melhorar as condições de vida das pessoas. O fato é que em um ano e três meses do atual prefeito, ele ainda não disse a que veio.
Informações: Jornal de Fato / Cézar Santos