Os gastos com apostas esportivas online dos brasileiros vêm repercutindo negativamente na economia e no orçamento familiar. O desvio do dinheiro para apostas já superam outras despesas como lazer, cultura e produtos pessoais, entre públicos de classes socioeconômicas de menor poder aquisitivo. Levantamento da PwC Strategy& do Brasil Consultoria Empresarial Ltda mostra que entre 2018 e 2023, as apostas representavam 0,27% do orçamento familiar da classe D. Em 2023, passaram a representar 1,98%, quase quatro vezes mais.
A pesquisa da PwC, ligada à multinacional de auditoria e assessoria PricewaterhouseCoopers, mostra que as apostas esportivas em plataformas online dispararam no Brasil após a aprovação da Lei nº 13.756 pelo Congresso Nacional, sancionada pelo então presidente Michel Temer no final de 2018. Entre 2018 e 2023, os gastos com apostas cresceram 419%. Por outro lado, os gastos com lazer e cultura que comprometiam 1,7% do orçamento familiar diminuíram para 1,5% entre 2018 e 2023.
Entre potiguares, esse cenário não é diferente. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com um jovem apostador, de 26 anos, que preferiu não se identificar. De acordo com ele, a entrada no mundo das apostas esportivas aconteceu em 2022, incentivada por um familiar e iniciada com valores baixos e tentativas pontuais. “A cada vez que eu ia ganhando, eu me animava e aumentava a aposta nas outras vezes”, explica.
Com esse costume e acreditando no bom palpite, o homem já chegou colocar o dinheiro de contas na banca, com esperança em dobrar ou até triplicar o valor. “Ao mesmo tempo que já paguei algumas contas com o dinheiro da aposta, também já corri o risco e perdi o dinheiro que usaria para pagar algo. Hoje estou mais consciente e coloco apenas valores menores para depois não ficar desesperado”, afirma.
O economista Robespierre do O’ explica que o costume de realizar apostas esportivas pode significar um risco para a saúde financeira do indivíduo. “Da mesma forma que muita gente gasta mais do que ganha e fica endividada, o jogo faz com que você vá no mesmo sentido”, afirma. Para o especialista, é importante que “o dinheiro trabalhe para você e não fazer que você trabalhar pelo dinheiro”.
“Na hora que você pega o seu orçamento, que já é apertado com várias despesas, e tira recursos para destinar a jogo, que normalmente você vai perder, porque a casa sempre ganha, você está prejudicando o seu orçamento familiar e com isso acaba ficando deficitário”, avalia.
Segundo pesquisa de opinião da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) divulgada em maio, cerca de 64% dos entrevistados admitiram utilizar parte de sua renda principal para tentar a sorte em apostas, enquanto 63% afirmam que tiveram parte de seus rendimentos comprometidos com apostas online. Além disso, 23% deixaram de comprar roupas, 19% abriram mão de itens de mercado, 14% deixaram de adquirir produtos de higiene e beleza, e 11% reduziram gastos com cuidados de saúde e medicações.Para diminuir esses riscos, Roberspierre pontua a importância da educação financeira para aprender a lidar com o dinheiro de forma inteligente. “A educação financeira no Brasil é extremamente importante e deveria vir desde a base, desde a pré-escola. Tem que ensinar a importância de guardar dinheiro, de fazer o dinheiro crescer, fazer o dinheiro lhe dar prosperidade, lhe dar tranquilidade”, afirma.
Para quem não deseja abrir mão de arriscar nas apostas, o economista aconselha realizar tentativas dentro de um orçamento realista. No entanto, em um cenário de maior controle, Roberspierre alerta que é importante evitar o costume de arriscar dinheiro na incerteza. “Não existe aposta segura. Jogar é prejudicial àquela pessoa que quer prosperidade financeira”, finaliza.