A 3R Petroleum, empresa que controla o Polo Potiguar da produção de petróleo, que antes era da Petrobras, não apresentou nenhuma indicação de que poderá mudar sua política de preços e, portanto, continuará tendo como referência o mercado internacional. Nesta terça-feira (12), o gerente de novos negócios da empresa, Kim Pedro, compareceu a uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado (ALRN) e explicou o modelo de produção e de precificação da companhia, alegando ainda que a refinaria Clara Camarão não produz a gasolina e nem o diesel que é vendido, mas importa esses insumos. Ele também negou que a refinaria esteja em negociação para ser vendida.
Na política de preços atual, que difere da que a Petrobras está seguindo, a gasolina vendida pela companhia no Rio Grande do Norte figura como uma das mais caras do país. “Para calcular o preço, considera o custo do produto no mercado internacional, toda a condição logística, o fator logístico para transportá-lo até aqui, internalizá-lo, nacionalizá-lo e repassá-lo à cadeia de distribuição”, explicou o gerente de negócios.
Segundo ele, mais de 50% da produção e venda da 3R está em solo potiguar e, desde que a empresa assumiu em junho passado, há campos que aumentaram a produtividade em até 50%. Todo o petróleo que sai dos poços da empresa é direcionado para Guamaré, onde está a refinaria, através de dutos e por meio de caminhões, em alguns casos. Contudo, a Clara Camarão não consegue realizar todo o processo e, conseqüentemente não produz a gasolina e nem o diesel que chega às bombas dos postos.
“A nossa refinaria só produz Querosene de Aviação. Ao processar o petróleo, os produtos e quantidades geradas são: 7% de Nafta (NDD); 11% de querosene de aviação; 16% de diesel com alto teor de enxofre (que não é o que consumimos); e 66% de óleo combustível (que é um preto, viscoso, destinado a grandes embarcações e motores específicos). Portanto, o único produto que conseguimos entregar de maneira pronta ao mercado é o querosene de aviação. Os demais dependem totalmente da importação e da cadeia logística de abastecimento internacional”, detalhou.
O modus operandis atual, afirmou o executivo, não mudou do que era antes. “É importado o diesel S10 e a gasolina nos padrões da ANP. Esses combustíveis vêm todo de fora. É importado. A refinaria só tem condições de especificar, produzir, o querosene de aviação. Os demais dependem das correntes importadas. O preço dos produtos importados reflete no preço final na refinaria”, afirmou Kim Pedro.
Segundo ele, apenas metade da demanda por diesel comum (S500) no Estado e 60% da gasolina consumida pelas revendedoras sai da 3R. O Polo potiguar foi entregue à empresa com uma produção diária de 26 mil barris/dia de processamento. “Já conseguimos ampliar na ordem de 10% rapidamente e hoje o ativo passa por um plano de recuperação para chegar à sua capacidade máxima instalada que é de até 40 mil barris”, destacou o gerente de negócios.
Para tanto, a companhia incluiu o polo potiguar no plano de investimentos que podem chegar a R$ 2 bilhões em cinco anos. “Existe um plano longo de investimento na recuperação dos ativos, nas melhorias, na ampliação de capacidade, não só no ativo industrial de Guamaré, como todo o pólo potiguar”, garante Kim Pedro.
A deputada estadual Isolda Dantas (PT), que propôs a audiência pública na ALRN, explicou que o aumento sucessivo do valor dos combustíveis no Rio Grande do Norte, mesmo após a mudança na política da Petrobras para controlar os preços tem preocupado. “Surge em todos a dúvida se produzimos tanto, temos uma refinaria, por que pagamos tão caro? Nosso questionamento é por que não basear no custo da produção, ao invés do mercado internacional que gera constantes oscilações. E por que outras refinarias conseguem praticar preços menores se a produção segue os mesmos parâmetros”, pontuou a parlamentar.
O gerente da 3R, no entanto, disse que todas as refinarias privadas seguem a mesma política e que as variações entre uma e outra dependem dos custos da produção.
Desde a terceira semana de agosto a 3R manteve o preço do litro da gasolina em R$ R$ 3,21. Já o diesel comum sofreu quatro oscilações para cima e apenas uma redução. Enquanto era vendido no início de agosto a R$ 3,69, custa agora R$ 4,10 o litro.
Enquanto isso, a Petrobras anunciou o primeiro ajuste de preços em suas refinarias, desde que mudou a política em maio. A gasolina A entregue diretamente às distribuidoras aumentou R$ 0,41 por litro e passou a ser vendida por R$ 2,93. Já o diesel subiu R$ 0,78, chegando a R$ 3,80 por litro.
O presidente do Sindipostos/RN (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN), Maxuell Flor, destacou a diferença de preços entre as refinarias. “Infelizmente o que a gente percebeu é que a 3R tem praticado preços acima do que o concorrente maior, que é a Petrobras, pratica. E a gente tenta buscar combustível fora, comprar a Petrobras em outros estados”, disse.
Contudo, há uma limitação logística e de cota. “Imagine que se todo mundo, todas as distribuidoras do Estado forem à Paraíba, então nosso vizinho aqui, buscar combustível, não vai ter suprimento para ambos os estados. Os postos não têm como não repassar os ajustes que são feitos pelas refinarias”, disse ele.