A Comissão de Educação e Cultura (CE) do Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (8), o projeto (PL 10/2020) de autoria do Deputado Federal José Guimarães (PT/CE) que inscreve o nome do padre Cícero Romão Batista, conhecido por Padre Cícero ou Padim Ciço, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A proposta, da Câmara dos Deputados, foi relatada pelo senador Cid Gomes (PDT-CE). Caso não haja recurso para votação em Plenário, a proposta seguirá para sanção.
Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato, uma cidadezinha no estado do Ceará. A data de nascimento foi dia 24 de março de 1844. Filho de Joaquim Batista e Joaquina Ferreira Gastão (que depois mudou seu nome para Joaquina Vicência Romana), que era conhecida por todos como “Dona Quinô”. Em seu sexto aniversário, Cícero começou a estudar. Já com 12 anos, fez voto de castidade, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales, bispo de Genebra do século XVII e declarado santo e Doutor da Igreja pela Igreja Católica.
Em 1860, aos 16 anos, Cícero foi estudar em Cajazeiras-PB, onde ficou apenas dois anos, pois seu pai faleceu em 1862, vítima de cólera. Isso o obrigou a parar de estudar e voltar para ajudar sua mãe e suas duas irmãs solteiras. A perda do pai trouxe graves problemas financeiros à família. Em 1865, aos 21 anos, entrou no Seminário da Prainha em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno. Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870, aos 26 anos. Voltou para Crato, à espera de uma paróquia para liderar. Nesse tempo, lecionou Latim no Colégio local.
No Natal de 1871, aos 28 anos, Padre Cícero conheceu o povoado de Juazeiro. Ele gostou tanto do povo de lá que dali a alguns meses, em 11 de abril de 1872, ele voltou para ficar, acompanhado de sua família. Diversos biógrafos afirmam que Padre Cícero mudou-se para Juazeiro por causa de um sonho onde viu Jesus Cristo e os doze apóstolos. De repente, uma multidão de pessoas carregando seus pobres pertences invadiu o local. Então, Jesus virou-se e disse: “E você, Padre Cícero, tome conta deles! ” Padre Cícero obedeceu sem pestanejar.
O povoado tinha umas poucas casas de taipa e uma capelinha de Nossa Senhora das Dores, Padroeira de Juazeiro. Padre Cícero reformou a capela e posteriormente, começou um intenso e trabalho pastoral através da pregação, do aconselhamento, das confissões e das visitas domiciliares. Em função disso, ele logo ganhou a simpatia do povo, tornando-se uma grande liderança na comunidade. Padre Cícero moralizou os costumes do povo, acabou com os excessos de bebedeira e a prostituição que havia em Juazeiro. O trabalho cresceu. Por esse motivo, Padre Cícero recrutou mulheres solteiras e viúvas e organizou uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade, para auxiliá-lo no trabalho pastoral.
No dia 1 de março de 1889, um fato mudaria a vida de Padre Cícero para sempre, bem como a rotina de Juazeiro. Naquele dia, quando a beata Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, mais conhecida como Beata Maria de Araújo recebeu a comunhão das mãos do Padre Cícero, a hóstia consagrada se transformou em sangue na boca da beata. O fenômeno aconteceu outras vezes. Por isso, o povo entendeu que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo.
A pedido do padre Cícero, o bispo Dom Joaquim José Vieira formou uma comissão formada de padres e de profissionais da área de saúde para investigar a procedência dos relatos. A comissão tinha como presidente o padre Clicério da Costa Lobo e, como secretário, o padre Francisco Ferreira Antero; contava ainda com a participação dos médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima, além do farmacêutico Joaquim Secundo Chaves. Em 13 de outubro de 1891, a comissão encerrou as pesquisas e chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos ocorridos. Insatisfeito, porém, com este parecer, Dom Joaquim nomeou uma nova comissão para investigar o caso, tendo como presidente o padre Antônio Alexandrino de Alencar e como secretário o padre Manuel Cândido dos Santos. A segunda comissão concluiu que não houve milagre.
O Padre Cícero, o povo e todos os padres que acreditavam no milagre protestaram. Isso foi visto como desobediência ao bispo. O bispo enviou um relatório à Santa Sé e esta confirmou a decisão do bispo contrária ao milagre. Os padres foram obrigados a se retratarem e Padre Cícero foi suspenso de ordem, acusado de manipulação da fé. Durante toda a vida Padre Cícero tentou revogar essa pena, mas não conseguiu. Ele até conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898 onde se reuniu com o XIII, mas, o bispo não voltou atrás. Proibido de celebrar Missas, Padre Cícero entrou na vida política atender aos apelos dos amigos, quando Juazeiro começou a lutar por emancipação política, o que ocorreu em 22 de julho de 1911. Padre Cícero foi nomeado Prefeito do novo município.
Padre Cícero era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC), espectro político centro-direita. Politicamente, o primeiro destaque obtido pelo padre Cícero foi sua atuação direta no processo de emancipação do município de Juazeiro do Norte – então vinculado ao Crato – angariando grande mobilização popular. Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, a Meca do Cariri em 1911, quando o povoado foi elevado à cidade. Poucos meses depois, no início de 1912, foi deposto do cargo de prefeito, só retornando ao cargo em 1914 – e nele permanecendo ininterruptamente até 1927.
O médico e ex-deputado federal Floro Bartolomeu da Costa foi o braço político do “santo” do Juazeiro.
Em 1914 padre Cícero foi eleito vice-governador do Ceará, no Governo do professor da Escola Militar do Ceará, Benjamin Liberato Barroso (24 de junho de 1914 a 12 de julho de 1916). Em 1926, Padre Cicero foi eleito deputado federal aos 82 anos, porém não chegou a assumir o cargo. Ele não foi ao Rio de Janeiro sequer buscar o diploma parlamentar. Continuou à frente da Prefeitura de Juazeiro do Norte. Padre Cícero é o maior benfeitor e a figura mais importante de Juazeiro. Depois disso, Juazeiro do Norte prosperou e a devoção a ele só cresceu.
Em março de 2001, foi escolhido “O Cearense do Século”, em votação promovida pela TV Verdes Mares, em parceria com a Rede Globo de televisão.Até hoje, todo ano, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, vinda dos mais distantes lugares do Nordeste, vai a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro. Com fama de santo milagreiro e padrinho dos mais humildes do sertão, Padre Cícero Romão Batista veio a falecer em 20 de julho de 1934, aos 90 anos.
Abdias Duque de Abrantes – Advogado, jornalista, servidor público e pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP), que integra a Laureate International Universities.